
Uma reflexão de como a paciência e a perseverança fazem diferença quando em alguma situação de “confronto” sabemos esperar, sem brigas, sem vozes altas, sem shows, apenas esperar.
Post de Roseli Marina de 06 de novembro
Depois do divórcio, ele deu-lhe apenas um dia para recolher as suas coisas e deixar a casa que durante anos fora o lar dos dois.
Sem discussões, sem lágrimas. Apenas silêncio espesso, cheio de tudo o que já não podia ser dito.
Ela arrumou tudo devagar, com a serenidade de quem já não sente raiva nem tristeza.
E antes de fechar a porta pela última vez, decidiu despedir-se à sua maneira.
Um pequeno jantar: camarões e um toque de caviar negro.
Não era vingança.
Era um gesto de encerramento um adeus calmo, digno, silencioso.
Quando terminou, escondeu cuidadosamente algumas caudas de camarão dentro dos tubos das cortinas, bem fundo.
Um segredo deixado ali, guardado pelo tempo.
Nos primeiros dias, a casa parecia renascer.
Ele e a nova companheira riam, decoravam, abriam as janelas, falavam de recomeços.
Mas depois… algo mudou.
Um cheiro.
Leve no início, depois mais forte, mais denso, mais impossível de ignorar.
Pensaram que era o lixo, ou as canalizações.
Limparam, desinfetaram, acenderam velas, borrifaram perfumes.
Nada mudou.
Chamaram canalizadores, equipes de limpeza, especialistas.
Gastaram dinheiro, paciência, esperança.
Mas o cheiro ficou.
Cansados, decidiram vender a casa.
Mas ninguém a quis.
Cada visitante que entrava parava, franzia o nariz e saía sem dizer nada.
Meses depois, ela telefonou.
A voz calma, doce, quase terna.
— Como estás? perguntou.
Ele suspirou.
— Tenho saudades daquela casa… disse ela. Se a vendesses, eu comprava-a de volta.
Ele aceitou, exausto. Vendeu por quase nada.
Uma semana mais tarde, ela voltou.
Tranquila, sorridente, observou os trabalhadores desmontar os móveis, as lâmpadas, as cortinas.
Quando retiraram a última vara, o ar tornou-se leve.
A casa respirou.
E na calma, ficou um perfume suave, limpo, quase invisível.
O perfume da justiça.
Pense nisso.
Gilwanya Ferreira
CRP – 04/42417