A paz que escolhi para mim

Um dia eu comecei pensar sobre as minhas escolhas e o que eu deveria priorizar para que eu pudesse me sentir melhor, por horas eu queimei meus neurônios, tentei fazer mudanças, escolher caminhos mais curtos, ouvir mais as pessoas, ler livros de autoajuda,  e tantas outras tentativas, umas deram certo, outras não deram tão certo assim, foram aparecendo coisas e mais coisas, tantas coisas que eu não havia nem pensando e elas foram invadindo meu espaço com uma predominância que me assustava, iam entrando sem me avisar e tomando conta de tudo, eram os sentimentos misturados entre o amor e a dor, eram os problemas que nunca deixam de aparecer, uma trinca na parede, minha gatinha que miava sem parar e eu não entendia sua linguagem, era o gás que acabara de acabar justamente na hora que eu estava preparando o almoço, era um filho que chorava por ter ralado o joelho no corre – corre das brincadeiras, era o grito de medo do outro filho com o trovão que estalava na madrugada de chuva, era o nosso cão que adoecia e precisava sair naquele temporal para levar ao veterinário, era o pneu do carro que furava justamente na hora de levar as crianças para a escola ou sair para o trabalho… e tantas coisas mais….

Não tinha como, eu não pedia tanta coisa, eu queria que tudo fosse tranquilo, que houvesse um tradutor de miados, que o gás apitasse 3 horas antes de acabar, que o sol não queimasse tanto minha pele, que aquela trinca pudesse se resolver sozinha, que os tombos e os medos não doessem tanto nos meus filhos, que nosso pet se mantivesse sempre saudável,  mas não era assim, os dias não são como queremos que seja, haverá coisas que chegam e que a gente não procura, mas chegam e precisamos tomar decisões, escolhas isto faz parte da vida.

No caminhar dos anos eu fui aprendendo, fui conseguindo resolver tudo, tinha horas que nem eu acreditava que o dia havia se findado e tantas coisas eu havia resolvido, coisas boas e coisas não tão boas assim, coisas muito ruins também apareciam sem que eu houvesse se quer imaginado, mas eu conseguia chegar ali no meu quarto e deitar na minha cama com a sensação do dever cumprido, eu havia conseguido mesmo com dificuldades  driblar as vicissitudes daquele dia e ao fechar meus olhos e me entregar ao sono eu apenas agradecia, eu sabia que amanhã era outro dia e outras tantas mesmas coisas e outras tantas outras coisas diferentes iriam aparecer e eu apenas precisaria resolver.

Comecei a me imaginar num futuro que não estava assim tão longe e comecei junto projetar em meus pensamentos atitudes positivas que pudessem me ajudar nos momentos mais difíceis, eles iriam sempre aparecer e então eu decidi que se não há escolhas para muitas coisas, por que não me preparar para enfrentar as situações com leveza e paz no coração?

Os anos foram passando… meus filhos cresceram, vieram os netos, minha vida mudou um milhão de vezes, tive que fazer escolhas independentes e totalmente sozinha, chorei muito de saudade, chorei mais ainda de alegria.

Meus olhos não se contiveram quando segurei pela primeira vez meu primeiro neto nos braços e esta mesma sensação se repetiu mais três vezes, cada uma com uma peculiaridade única, cada olhinho que me olhava naquele corpinho tão frágil me passava ainda mais certeza que tudo havia valido a pena e que a sensação de ter segurado meus filhos nos braços depois do parto normal foi a melhor escolha e a mais pura dor do amor que eu havia vivido.

Foram coisas que eu vivi, foi uma vida que eu havia vivido e que ainda vivo, plena e cheia de esperança, uma vida que ainda alimento cheia de sonhos que a cada manhã vão se tornando reais ou se fortalecendo para se realizarem num amanhã qualquer, não tenho mais pressa.

Se o gás acaba, eu como uma coisa qualquer ou peço, se o dia está chuvoso, não tenho mais a urgência da roupa seca, não tenho mais que correr.

Para meus netos hoje dou meu amor, não preciso mais corrigir, educar, isto é função dos pais, eu apenas quero ama-los e vê-los crescer, fico feliz em ouvir a caçulinha gritar vovó, e ver as gracinhas da número 3, o número 2 cada dia mais voraz no futebol e muito esperto nos estudos, o número 1 este hoje está um homenzinho, trabalhando e correndo atrás dos seus sonhos também… a vida está passando e coisas vão chegando pra mim e pra todos nós, coisas boas e coisas não tão boas assim, mas é a vida e a vida passa sem que possamos impedi-la de seguir.

Hoje escolhi a paz, escolhi viver meus sonhos paulatinamente, escolhi fazer escolhas que me dão prazer e paz independente do que o outro diga, mesmo que este outro seja alguém próximo, é a minha vida e eu quero paz.

Quero colorir de cores fortes meus dias, de cinza apenas os dias chuvosos ou a neutralização e sofisticação do luck do dia, quero deixar o vermelho e o rosa se misturarem ao laranja e ao verde limão, ao azul e ao amarelo  para minha vida mais alegre se tornar, quero paz.

Não quero mais precisar correr de um lado para outro, quero agora passos lentos caminhar, quero ter muita esperança porque ela quem sustentará minha alma e minhas escolhas.

Para correr quero apenas de um portão ao outro no aeroporto que eu escolher.

Quero ter coragem, muita coragem para a vida enfrentar e até mais de 100 anos chegar, quero ter coragem para atiçar aquilo que inevitavelmente possa chegar.

Quero ter paz e viver a paz porque a vida não pode ser outra coisa além de viver, não controlando tudo que queremos controlar, mas sim fortalecendo laços, atos e ações para quando a idade chegar de pé e avigorada eu posso estar.

Eu quero a paz que escolhi para mim. Você também quer?

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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