
O que podemos falar sobre o silêncio? O que o silêncio pode representar na vida de uma pessoa principalmente quando está se encontra na maturidade da vida?
É, o silêncio é uma palavra mágica, é uma atitude de grandeza de vida e principalmente de sabedoria, mas será que o silêncio tem o poder de mudar tudo ou quase tudo na vida de uma pessoa madura?
Falar deste poder que temos é causar de certa forma uma polêmica principalmente porque na nossa cultura falar é um ato de comunicação poderosa, porém temos que entender que o silêncio tem várias vertentes e com seu poder ele pode violentar, distorcer entendimentos e ao mesmo tempo pode amparar, abraçar. O silêncio preserva e pode trazer paz, o silêncio pode significar dor e também a silenciosa euforia de não querer mais afrontar.
No silêncio podemos muito mais entender, o silêncio é quem reforça a constância de quem somos ou de quem queremos ser independentes da idade que estamos.
O fantástico mundo do silêncio pode de verdade mudar uma vida, o fantástico mundo do silêncio auxilia no equilíbrio e na sutil necessidade da escolha de “eu não preciso mais”, de poder viver conectado consigo mesmo e não mais querer provar nada a ninguém, não precisamos mais sermos donos da razão, apenas precisamos de nossa paz.
Durante nossa existência enquanto crescemos somos muitas vezes contraditórios, temos necessidade de entender e nestes movimentos a maioria das vezes falamos mais que necessitamos porque precisamos nos afirmar diante de situações que queremos manter “sobre controle”. Já na maturidade da vida aprendemos que o silêncio é mais poderoso que uma longa explicação ou mesmo de justificação. Aprendemos que nem todas perguntas ou colocações precisam de uma resposta imediata ou mesmo de serem respondidas, ser sábio no silêncio é aprender que dentro de nós existe uma verdade que é nossa e de mais ninguém.
Na caminhada da vida um dia somos um, no outro somos outro, somos seres mutantes e esta é a principal causa da sabedoria do silêncio, ninguém precisa saber quem somos e o que pretendemos, o que planejamos ou mesmo o que pensamos a respeito de nossa própria vida ou da vida do outro, cada um é cada um, não há outra forma de existência.
Nascemos, crescemos, reproduzimos, nossos filhos enquanto pequenos necessitam de nossas mãos, de nossas decisões, do nosso cuidado, mas eles também crescem e um dia voam de nossos ninhos e não precisam mais de nossos cuidados, seguem suas jornadas e nossa opinião pouco ou nada vale em muitas situações e é neste momento de “confronto” com a realidade é que sentimos profundamente a dor e a real necessidade de nos silenciar.
Quem nunca presenciou a criação de um neto totalmente “diferente” da criação que demos a nossos filhos e não sentiu a garganta travar em não poder “gritar” por um dia ter ouvido “O filho é meu, a criação eu quem dou”.
O mundo mudou, entendemos isso, sabemos que não há mais possibilidades de ser como antes, mas entender para alguém que criou é mais difícil porque é necessário se silenciar diante do “grito” de um olhar de reprovação e não de acolhimento, é necessário se silenciar ao afrontamento do “eu quem tenho razão”.
Quando envelhecemos naturalmente nos tornamos frágeis em nossos sentimentos e ai vem o estereótipo do velho “ranzinza” de ter se tornado alguém que “não é bem quisto”, que “não sabe mais nada”, que é um estorvo, um peso, daí o contrário acaba por necessidade de aceitação acontecer, nos anulamos diante de nossos próprios desejos, nos anulamos diante de nossas próprias opiniões e o silencio acaba por acontecer não por vontade própria e sim por uma pressão psicológica cruel e este silêncio é o silencio que fere, que machuca, que humilha porque no passar do tempo nos faz além de mudos, invisíveis diante daqueles que por uma vida cuidamos e preservamos de todas os intemperes. Este silêncio é o silêncio do fim.
Quando pensamos em nossa existência precisamos também nos preparar para uma vida silenciosa, na maturidade também há tempo, na maturidade ainda há tempo de mudar porque é nesta etapa da vida que a vida precisa mudar e mudar para melhor. Não há tempo para o tempo do bem estar e do estar bem.
O silencio sábio é aquele que nos preserva, que nos poupa de contrariedades que não nos diz respeito, que não temos como opinar, o silenciar sábio é aquele que permitimos extravasar com o olhar e não com palavras em vão que não serão ouvidas ou bem interpretadas. Precisamos nos preservar.
O amadurecimento é um tempo de sapiência. Infelizes aqueles que pensam que o envelhecimento é um tempo de isolamento social ou de baixa nas funções cognitivas, não, não é assim que acontece se nos preservarmos desde cedo, se aprendermos que nossa “língua solta” pode mais nos prejudicar do que ajudar, que pode mais nos decepcionar do que nos surpreender, é o silêncio que prospera, é no silêncio que tudo acontece e a maturidade da vida é a melhor época de colocar em prática todo aprendizado de uma vida porque agora, maduros que somos não mais necessitamos de aprovação, de opiniões ou até mesmo de dar satisfações de o que queremos ou como queremos, apenas somos, fazemos, somos conscientes de mais e sábios de mais, percorremos décadas, atravessamos correntezas e ventanias, chegamos aqui, chegamos aqui porque muito apanhamos e também algumas vezes batemos, mas agora, agora não, não precisamos mais disto, estamos aqui para viver e bem viver e viver bem é saber que inteligentemente precisamos nos calar, ouvir e “deixar o outro ter razão” porque a razão do outro, seja ele quem for não mais mudará nossa jornada de vida, não mais nos direcionará a nenhum lugar, somos nós por nós e se somos conscientes felizes seremos.
Precisamos entender que silenciar não é se submeter, que silenciar não é se omitir de uma existência digna e sábia, se silenciar é se colocar em uma posição de conforto, de dignidade e de inevitável qualidade de vida saudável.
Na nossa trajetória de vida visões de mundo foram destorcidas e mal entendidas, variamos de cabelo, de cor, de estilo, de gostos e de desgostos, variamos o tempo todo, um dia gostamos do mar com uma intensidade jovial e inexplicável, no outro queremos nossa banheira de hidromassagem ou até mesmo nosso chuveiro quente a nos abraçar, mudamos, que mal tem nisso?
Mudamos e esta mudança não é para o outro e sim por nós mesmos, para a nossa paz, para nossa grandeza interior e neste exato momento o silêncio vale ouro, a calmaria da alma que se cala porque não é mais necessário explicar porque não queremos mais, porque hoje queremos se ontem não queríamos e tantos outros questionamentos desnecessários nesta etapa da vida. Ah! … ser maduro é um tempo de luz!
Quanto é libertador o silencio positivo, quanto é poderoso esta atitude na maturidade da vida onde muitos opinam por inevitável intromissão, que dão palpites não por coerência e sim por divergência, ah se todos nós soubéssemos o valor que tem o silenciar…
Nesta idade? Porque se veste assim?… Ah… você está “velho(a) para ter namorada(o)… Viajar? Nesta idade? Para que isso? Dançar? Hummm cuidado para não cair, quebrar algo, não é fácil curar… Sentada(o) aqui? Olha, não faz bem, o vento está forte… Reunir amigos(as) nesta idade? Tem lógica não…. vai rezar…
Tantos palpites, tantas negatividades que ferem que nos fazem diminutos na existência atual, mas se com inteligência soubermos interpretar, o silenciar muito pode nos ajudar. É a opinião do outro, não a minha. Conhecemos nossas limitações, conhecemos nosso poder, conhecemos nosso poder mais do que ninguém possa interferir e diante desta capacidade de discernimento calar é sabedoria, calar com os lábios e dizer com o olhar é deixar que a vida flua em prol da nossa serenidade e calmaria interior.
Agora cabe a nós e não ao outro o controle de nossas vidas e o equilíbrio de nossa existência e nos permitirmos a “exageros” ou não é uma decisão exclusivamente nossa porque ao longo dos anos algumas vezes ou muitas fomos “obrigados” a sermos levados “pela correnteza” das situações apenas por preservação, fomos coagidos a não nos calarmos para muitas das vezes nos afirmarmos, agora, agora não. Basta! Não há mais necessidade. Podemos calar.
Calarmos diante de situações familiares, de amizades, de trabalho ou se quisermos calarmos diante do mundo. Que isso importa agora?
Calarmos diante daquele que não querem nossa opinião, calarmos diante daqueles que creem que nada sabemos, calarmos diante daqueles que imaginam que sabem tudo e que nada mais sabemos. Calarmos pela nossa paz. Isto é sabedoria.
Deixarmos nossa boca opinar quando a nós nos direcionar, quando em nós acreditar porque hoje o contrário disso não mais nos importa. Estamos aqui.
Isto é sobrevivência positiva.
Calarmos diante de situações de tensão emocional vindas elas de onde vier. O silêncio aqui é luz.
Calarmos para refletirmos qual caminho melhor seguir, calarmos para analisar o sentimento que o outro “derramou” em cima de nós. Silenciar neste momento é plenitude.
Calarmos para nos permitirmos ouvir melhor, entender a razão do outro. Silenciar neste momento é inteligência é cultivo de nossa própria paz é a preservação de ressentimentos desnecessários de discussões acaloradas é respeitar nossa própria dignidade e deixar que o tempo faça sua parte.
Portanto, vamos analisar onde estamos nesta etapa de nossas vidas maduras, em que lugar estamos nos colocando e em quanto estamos nos importando com nossa mudança de comportamento em prol de mais momentos de luz silenciosas a instantes desnecessários de inquietações e falas não ouvidas e inúteis.
Pensemos em nós e em nossas posições diante do mundo que estamos hoje inseridos e façamos a mudança.
Silencio é vida!
Pense nisso
Gilwanya Ferreira
CRP 04/42417