
As rugas podem vir, os cabelos brancos podem aparecer, a pele pode ceder à gravidade.
Tudo isso é apenas tempo se escrevendo no meu corpo. E tempo não é inimigo, é testemunha.
Não temo a memória que tropeça, nem os passos que diminuem, nem as mãos que tremem um pouco mais que o esperado.
Isso é vida acontecendo e vida nunca foi perfeita, mas existe um medo que me acorda de madrugada: Me tornar um peso.
– Não quero que minha velhice viva às custas da paciência de quem eu amo.
– Não quero que cuidar de mim se transforme num dever que marca rostos e curva ombros.
– Não quero que minha presença roube a vida de ninguém.
Quero que meus dias continuem cheirando a café fresco, ao barulho da chuva na janela, a risadas que ainda nascem espontâneas.
Quero que minha liberdade — conquistada com tanto custo — não seja roubada pela dependência total.
– Quero que minha velhice continue sendo minha.
– Quero continuar sorrindo, mesmo que o corpo doa continue aprendendo, mesmo que a memória falhe, continue amando, mesmo quando as forças acabem.
Porque envelhecer com dignidade não é privilégio.
É direito.
E dignidade significa viver livre de me sentir um fardo.
Não tenho medo da passagem do tempo.
Tenho medo que um dia eu ocupe tanto espaço nas preocupações dos outros e que não sobre espaço nenhum pro meu amor.
Porque quando meu último suspiro chegar, eu quero sair deste mundo como fui, uma vida que valeu a pena.
Não um peso que aliviou quando partiu.
Pense nisso.
Autor desconhecido
Gilwanya Ferreira
CRP 04/ 42417