
De acordo com o Censo demográfico de 2022, 5.664.602 pessoas com 60 anos ou mais vivem sozinhas aqui no Brasil e isto representa 28,7 % da nossa população.
Três anos já se vão desde esta última contagem então imaginaremos aqui que está população teve um aumento talvez não tão significativo, mas houve e aí eu pergunto: – Por que tantos idosos na atualidade vivem sozinhos?
Da juventude à idade adulta construímos nossas vidas como elas devem ser, alguns namoram, casam, constroem suas famílias, educam seus filhos os criam até que eles saem de casa para estudar ou outro motivo qualquer acabam assim por deixarem os pais agora maduros ficarem sozinhos. Já para aqueles que não tiveram filhos por opção ou outras razões a vida também caminha nesta mesma direção e até mesmo para aqueles que viveram com seus pais ou irmãos até certa idade e em um tempo qualquer chegou o tempo de também ficarem sozinhos.
Viver sozinho quando se está na idade madura sempre foi um tabu, porém nos dias de hoje onde o envelhecimento populacional cresce a cada ano observamos que aquele que tinha 50 anos ou mais nos anos 70, 80 e até nos anos 90 era considerado alguém velho, fora da curva de produtividade, atives e até mesmo lucidez total para autonomia de suas vidas no entanto, com o avanço da medicina, e a conscientização da necessidade de melhor qualidade de vida com exercícios físicos e cognitivos cada dia mais avançados aquele que tem 50 anos ou mais ao contrário dos anos anteriores se apresenta completamente saudável é apto à administrar sua vida da maneira que entender que seja o melhor para ele, isto é fato e baseando-se neste feito o viver sozinho se tornou algo comum.
Mas por que isto acontece?
As pessoas com o passar dos anos vão adquirindo “manias” hábitos que vão se calcificando dia após dia e estes hábitos são tão peculiares que na maioria das vezes é difícil de dividi-los com outra ou outras pessoas.
Em uma conversa informal com idosos e idosas em um centro de convivência onde as perguntas eram: – Você vive sozinho (a)? Por que vive sozinho(a) Você gosta desta situação? Você tem vontade de voltar a viver com outra(s) pessoa(as)?
Obtive várias respostas e minha maior observação foi quanto à autonomia daqueles que vivem sozinhos.
Na pergunta por que vivem sozinhos foram várias respostas: – porque vivi com minha família, pais e irmãos até que todos “partiram” e hoje só restou eu, porque sou viúvo (a), divorciado(a) e meu(s) filho(s) é (são) casado(s), porque não tive filhos e meu companheiro (a) “partiu”, porque estou divorciado(a) e não tive filhos, porque nunca me casei etc., etc.
Em nenhuma das respostas acima em nenhum dos entrevistados observei algum tipo de arrependimento ou mágoa pela situação atual, até pelo contrário, foram muitos que disseram que a liberdade de viver sozinho não tem preço que pague.
Hoje é raro ver um idoso(a) saudável que não seja ativo, ele(a), faz exercícios físicos rotineiros, caminham sozinhos(as) ou com os amigos, se divertem nos clubes, frequentam bares, praticam esportes, dançam, nadam, viajam, estudam novos idiomas, alguns namoram, outros fazem questão de manterem acesas as amizades, muitos quiseram continuar suas carreiras profissionais ou criaram novas oportunidades remuneradas e até mesmo como voluntários, fazendo-os a cada dia mais independentes e autônomos de suas escolhas e decisões.
Independente da classe social em que este idoso(a) está inserido(a) a liberdade de poder “ter seu canto” encanta, dá a ele(a) o domínio de se sentir vivo(a), atuante e ainda protagonista de sua própria história enquanto a vida lhe dá esta oportunidade.
O envelhecimento não é sinônimo de impotência nem de invalides, pelo contrário muitos daqueles que hoje estão na idade madura e vivem nesta “modernidade” foram pessoas que anos e anos deram seu melhor para manterem quem são, tiveram suas batalhas algumas perdidas e outras vencidas, mas nunca desistiram da luta chamada vida por isso não abrem mão desta autonomia de se sentirem poderosamente soberanos(as).
Na pergunta: – Você tem vontade de voltar a viver com outra(s)pessoa(as)?
Neste mesmo grupo de idosos observei que houve rumores e até risinhos soltos, mas, num contexto geral e majoritário até mesmo entre as respostas masculinas o Não, venceu. Então coube a mim perguntar por que? e dentre as muitas respostas a maior parte veio do que citei acima, a autonomia, a liberdade de se fazer o que se deseja na hora que se “bem entende”, de poder não mais precisar “dar satisfações”, de poder chegar em casa e sentir a presença sublime da paz, da organização singular de cada um, das outras tantas possibilidades que incluem a solitude e não a solidão.
Claro que existiram outras respostas daqueles (as) que confessaram que sim, queriam poder viver com um companheiro, com um (a) amigo (a) ou com um familiar, porém as circunstâncias não foram ou não são favoráveis então se aceitam como são seguindo suas vidas como podem. Ressalto que entre todas as respostas em porcentagem estas foram menos de 2%.
Diante deste fato experimentado inclusive por mim, ressalto que é necessário termos consciência de que um dia poderemos mudar esta realidade, que um dia poderemos sim necessitarmos da ajuda permanente de outra (s) pessoa (s) e que vivermos sozinhos não estará mais nas nossas condições, então o que é fundamental é entender que enquanto a vida nos presenteia com esta possibilidade é preciso estarmos atentos ao controle de nossas finanças, ao total conhecimento da nossa capacidade física, mental, espiritual e intelectual, às possibilidades seguras de mantermos nossa higiene, à uma boa e saudável alimentação e a um sono reparador para que não sejamos “pegos de surpresa” com doenças ou atitudes que possam nos prejudicar.
Mantendo este equilíbrio poderemos sim vivermos sozinhos e sermos totalmente seguros e realizados até que outra realidade chegue e com tranquilidade saberemos ou nossos familiares saberão tomar as decisões que melhor nos atenderá até que chegue também nosso momento “de partir”.
Então, você também vive sozinho(a)?
Pense nisso
Gilwanya Ferreira
CRP 04/42417