Agora eu só quero por perto aquilo que me faz bem

Um caso verdade

Chega uma hora que nos damos conta que não há mais necessidade de vivermos aquilo que não queremos viver, que a qualidade de vida precisa ser preservada e que nossa saúde tanto física quanto mental precisa ser prioridade.

Que a cada dia é necessário percebermos que novas oportunidades podem surgir e que podem ser ainda melhores dando-nos a possibilidade de nos transformarmos em uma versão ainda melhor da que hoje somos.

É por isso que agora eu só quero por perto aquilo que me faz bem….

Ouvi isso de um paciente depois da “transformação”, depois de meses lutando consigo mesma para se reconstruir e novamente se reencontrar e com orgulho quero escrever sobre sua experiencia de viver uma vida inteira sob influências negativas e pejorativas.

Patrícia hoje tem 62 anos, sempre trabalhou muito, sempre foi uma pessoa dinâmica e que olhava e cuidava carinhosamente do bem estar de todos. Aos 19 anos conheceu Leonardo, um rapaz exemplo, alguém supostamente sem defeito algum, ele era solicito, sabia fazer de tudo um pouco porem era tímido, diferentemente de Patrícia que era falante, extrovertida e guerreira. Os dois formavam aos olhos de todos um belo casal e pela “força da torcida” o namoro seguiu forte até o casamento, ela agora 22 anos uma jovem sonhadora que enfrentava todas as batalhas ao lado de seu agora marido, trabalhavam juntos para construir o melhor para os dois e como a vida é mágica a primeira gravidez chegou, as lutas continuaram e o casal agora pais de um lindo garotinho precisavam crescer, afinal havia mais um ser para educar, ensinar, alimentar, cuidar….

A vida ia bem até que um dia Patrícia começou perceber algumas mudanças em que ela se sentia muito sozinha, críticas e isolamentos aconteciam corriqueiramente, havia sim harmonia em casa, mas a chama do casal não mais estava na mesma sintonia e as coisas foram mudando gradativamente, lentamente até que em um dia ela se viu diante de uma situação delicada que necessitava de uma grande e sábia decisão.

Eles decidiram se separar. Patrícia em meio a sentimentos, dúvidas e medos não quis “mendigar” amor, naquele momento onde os olhos daquele casal se cruzaram ela sentiu que precisava abrir mão de seus sentimentos e ser ainda mais forte para seguir e frente.

Agora aos 45 anos ela teria que recomeçar uma nova jornada, seu filho já crescido estudava em outra cidade e ela se viu sozinha, sozinha em um mundo de decisões a serem tomadas que poderiam ser de erros que a fizessem acertar e ela seguiu em frente, forte e decidida de longe observava as mudanças acontecendo e sozinha foi abrindo novas estradas. Árduas, algumas a feriu muito, outras ela encontrou “anjos” que a ajudasse, mas muitas lágrimas ela derramou, muitas noites vazias ela chorou em silencio vivenciando dores que a sufocavam, mas ela precisava ser forte, lutadora para sobreviver a aquele tempo árduo que ela estava passando.

Patrícia sempre acreditava que o amanhã tudo chegaria a sua rota natural de evolução, que a vida traria outras oportunidades e quiçá outro amor.

E o tempo mostrou para o tempo que este tempo sim poderia chegar e de repente Patrícia cruzou o olhar em outro olhar e a magia novamente aconteceu… ela agora 50 anos.

Outra vez seu coração pulsava forte e os dois se deram muito bem, parecia que ele, Pedro, lia seus pensamentos, era um homem atencioso, manso e amável e Patrícia a cada dia se envolvia mais e mais e a única coisa que ela sempre pedia a Pedro era que não a fizesse sofrer, que agora aos 50 anos ela não queria isto, ela precisava viver a paz.

Mas… o tempo também passou e os percalços começaram aparecer, problemas foram surgindo e ela sempre ajudando e ele sempre a fazendo sofrer, foram 5 anos assim, até que em uma determinada situação aquele relacionamento que parecia tão peculiar também teve seu fim.

Patrícia novamente chorou sem ninguém perceber sofreu outra vez sorrindo para a vida como se seu sofrimento fosse proibido, enxugou lágrimas quando outra vez precisava deixa-las escorrer, a vida outra vez a estava excluindo da possibilidade de um recomeçar.

E ela guerreira seguiu, mudou de cidade, de emprego, de aparência e continuou sua jornada alimentando seu amor próprio mais que nunca como pedra preciosa e foi seguindo convicta que passaria seus dias sozinha ou com as amigas.

Patrícia se envolveu em projetos sociais, em novas perspectivas e fez novas amizades, dedicou seu tempo a viajar, conhecer culturas e hábitos aprendendo ainda mais com suas novas vivencias e assim foi matando novamente sua dor e avançando sua estrada de cabeça erguida orgulhosa de si mesma e das conquistas alcançadas, mas, o vazio de um sentimento a atormentava como um furação invadindo sua alma em que ela não conseguia dominar principalmente quando sozinha estava.

Era uma dor enorme, seu coração chegava pesar tanto que parecia que iria explodir. Patrícia apenas queria os braços de alguém que de verdade a amasse, que pudesse compreender e dar as mãos para juntos seguirem uma mesma estrada…ela já havia tentado 2 vezes e quando mais acreditava nas possibilidades de aquilo ser real, desmoronava como um castelo na área.

E ela prosseguia seus dias no vazio do sentimento que ainda a atormentava deixando-a em alguns momentos inquieta e sem rumo, ela saia sem destino apenas para sentir o vento tocar seu rosto. Mergulhou no seu trabalho com afinco e dedicava seu tempo ao seu filho, as amigas para não dar ao tempo oportunidade de ser observado.

E este mesmo tempo foi passando como é da lei natural, não há como freia-lo até que um dia em um bar com as amigas ela percebeu um olhar insistente buscando seu olhar, um sorriso maroto brotou dos lábios de alguém que insistia em lhe cortejar, mas ela com medo desviou seu olhar e não permitiu seu sentimento brotar, ela estava receosa não queria se envolver.

A noite passou e ela e suas amigas trilharam seus rumos e naquele dia nada aconteceu, porém o rosto daquele homem ficou em seus pensamentos latentes como o pulsar da vida.

Patrícia buscou ajuda psicológica, aprendeu a amar-se ainda mais, aprendeu que era possível ser muito feliz com a vida que tinha, que os vazios aconteceriam sim e iriam aos poucos sendo compreendidos e substituídos como solitude e não solidão, que os amanheceres poderiam ser lindos numa cama enorme mesmo sozinha.

E ela foi se fortalecendo os meses foram passando e Patrícia nunca mais conseguiu esquecer aquele olhar, ela não sabia nada sobre aquela pessoa e nem chance de reencontra-lo teria e decidiu deixar aquela imagem como lembrança boa de um momento até que num evento em uma cidade vizinha em que ela participaria no mais de repente instante Patrícia cruzou seu olhar naquele olhar, seu corpo estremeceu, sua cabeça estonteou, suas mão suaram como bica e ela perdeu a ação, sorriu para aquele sorriso que lá atrás a buscou com tanta insistência e num gesto de surpresa suas mãos se deram ao meio à multidão, ele também não a esqueceu.

Samuel era seu nome, um homem maduro grisalho do sorriso leve se apresentou, viúvo, sem filhos havia se mudado para a cidade vizinha a pouco tempo e “naquela noite” resolveu ir conhecer a cidade de Patrícia porém ao se sentir menosprezado pelo olhar daquela que lhe chamou tanta atenção achou por bem não voltar, mas o destino é mesmo implacável trouxe a oportunidade que tanto os dois buscavam e naquela noite depois das “obrigações” de Patrícia cumpridas os dois não pararam mais de conversar, uma noite inteira como se já se conhecessem a anos, como se vivessem um ao lado do outro sempre.

As coincidências, as afinidades as risadas pareciam não serem reais eles estavam envoltos em um momento único que nenhum havia vivenciado.

E naquele dia Patrícia percebeu que o seu amor era tanto que seu valor era ainda maior a ponto de notar, distinguir a grande diferença entre aquele encontro e os outros encontros de outrora.

Eles agora estão juntos e Patrícia vive um momento de segurança e estabilidade emocional pois compreendera que por anos seu amor para o outro sempre era muito maior que o seu amor próprio e com esta grande mudança ela encontrou alguém que acrescentasse mais felicidade aos momentos felizes que ela aprendera viver, que podia ser companheira simplesmente pelo desejo de ser e não pela obrigação de um relacionamento.

E daquele dia em diante Patrícia reforçou a máxima em dizer:

– “Agora eu só quero por perto aquilo que me faz bem”

Vamos assim também viver?

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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