
É possível haver relacionamentos tóxicos e abusivos quando se está na maturidade da vida?
Está é uma pergunta constante que ouço em meu consultório e é incrível perceber que estas dúvidas na atualidade não são apenas de mulheres e sim também de homens, sim, de homens que se sentem “ameaçados” pelas atitudes abusivas e tóxicas vindas de suas companheiras.
Quase nós mulheres não podemos acreditar que “uma de nós” possa agir desta forma principalmente quando se está na “idade dourada” da vida aí, perguntamos: Por que isso acontece? Quais os motivos que levam a este comportamento? Relacionamentos abusivos não são características específicas dos homens? Quais os sentimentos internos de um homem ou de uma mulher que age desta maneira? Será que todos estes comportamentos são de verdade conscientes?
Tantas perguntas, mas vamos inicialmente esclarecer o que é um comportamento abusivo, o que é um comportamento toxico.
Comportamento abusivo é aquele que há intenção de machucar, de ofender. O indivíduo abusivo premedita sua ação, planeja o momento certo de atacar, de manipular, estuda o comportamento do abusado para só depois agir, já o comportamento tóxico não é premeditado, não é planejado, o sujeito pode não estar percebendo sua ação, ele (a) age naturalmente como se fosse algo corriqueiro.
O comportamento do sujeito abusivo é identificado quando ele age de maneira egoísta, quando há xingamentos principalmente diante de outras pessoas, quando o desprezo seja algo natural, quando a violência física e psicológica se torna constantes, quando as mentiras começam a fazer parte do dia-a-dia, quando as intimidações e a crueldade são naturais e outras pequenas atitudes que podem ser inseridas inicialmente sem percepção do abusado, mas que com o passar do tempo começam a machucar.
Diferentemente do abusivo o comportamento tóxico pode não ser identificado pelo sujeito abusado como algo errado e sim como cuidado excessivo, como amor, como proteção porque não é explicito, está intrínseco na vida dos dois e isso pode ser desde o inicio do relacionamento.
O sujeito tóxico é cruel, é egoísta, negativo, é docemente violento, ele(a) tortura de maneira peculiarmente sutil e esta tortura pode ser física, emocional ou psicológica tudo sem nenhuma característica intencional.
Sujeitos tóxicos são facilmente abusivos eles se tornam abusivos naturalmente, sem esforço ele leva o relacionamento que é tóxico também ser caracterizado como abusivo, mas como podemos identificar que tais situações possam estar ocorrendo?
Não é fácil identificar certas características do tóxico uma vez que como foi dito acima ele(a) age de maneira não intencional, ele(a) tem reações constantes, porém confundidas ou justificadas como alguém que não sabe exatamente o que está fazendo. “Ele(a) me ama tanto que está me protegendo” “Ele(a) não permite isso ou aquilo porque nosso amor é suficiente” e tantos outros chavões.
Na idade madura tem sido constante as queixas tanto dos homens quanto das mulheres no que posso dizer desrespeito ao outro.
Muitos destes relacionamentos são segundos, ou terceiros, chegam por carência afetiva, de conflitos familiares, de divórcios consequentes de também relações abusivas ou toxicas que podem ser encobertas pela “nova conquista” e tantos outros motivos.
Uma pessoa madura não deveria viver isso, é o que todos nós pensamos, mas não é isso que acontece. Assim como nos encontros da juventude, o ser maduro também pode ser abusivo e toxico, ele(a) pode inclusive ser assim, mas no inicio não mostram, esperam a afetividade se fixar para só então mostrarem verdadeiramente quem são.
Eles(as) cativam para depois menosprezar, eles(as) apoiam para depois competirem, eles(as) mostram um respeito enorme para depois começarem desrespeitar, eles(as) afrouxam para depois controlar, eles(as) evitam conflitos, mas depois não criarem motivos para os mesmos evitar, eles(as) acham, aceitam que “tem que ser assim” para depois invadirem nossa privacidade ou até mesmo nossa intimidade.
Eles(as) têm atitudes tão peculiares e subjetivas com tanta sutileza que quase sempre estas situações não são vistas como algo que destrói a auto estima, que afeta como um furacão nossa qualidade de vida, que avassala nosso interior nos deixando pessoas ansiosas, medrosas, incrédulas de nossas capacidades a ponto de nos conduzirem a um estado depressivo ou traumático muita das vezes irreparável.
Estas feridas quando se está na maturidade da vida podem ser incorrigíveis, elas causam tantos danos que inclusive podem levar o sujeito a atitudes tão negativas a ponto de tirarem suas próprias vidas por acharem que “não existe mais solução” nesta altura da vida.
Cuidar é excessivamente necessário e é com esclarecimento e ajuda que se consegue colocar um ponto final nestas situações. As feridas emocionais muitas das vezes são mais difíceis de se curar do que as feridas físicas causadas pelo abusivo elas carregam marcas muito mais acentuadas do que as cicatrizes mostradas.
É importante ressaltar que tanto no relacionamento abusivo quanto no tóxico, mais no tóxico posso dizer, o sujeito que vive está situação pode como disse anteriormente não estar atento, não perceber, mas quem está fora consegue identificar com clareza e neste caso a ajuda se torna inevitável. Sim, claro que sim que em “briga de marido e mulher” nestes casos tão visíveis devemos “meter a colher”.
Devemos orientar, salientar particularidades, esclarecer que as coisas ditas não podem ser “de qualquer forma” que mesmo sendo casal é necessário o respeito, que amor não machuca, que afetividade é construída, que mesmo estando maduro é importante amar-se em primeiro lugar, que os limites da relação a dois, mesmo ambos estando na idade madura devem ser respeitados.
Que abusos não devem acontecer, nem verbais nem emocionais e muito menos físicos e que em nenhuma fase de nossas vidas isso não deve ocorrer nem de forma indireta ou subliminar quanto mais diretamente como objetivo de prejudicar.
Um tapa de amor não dói, DÓI SIM ele pode ser entendido assim, mas ninguém tem o direito de bater no outro NEM POR AMOR.
Acoar constranger, discutir, empurrar, zombar, humilhar, privar, isolar e tantas outras maldades não devem acontecer “naturalmente”, não é de brincadeira, tudo isso e muitas outras atitudes devem ser observadas tanto dentro como fora do relacionamento pelos familiares, amigos, cuidadores, vizinhos ou pessoas que possam estar envolvidas em um episodio desta natureza mesmo que seja por uma única vez.
Denunciar um mal trato observado em um restaurante, num local público ou mesmo “na casa do vizinho” que não temos intimidade ou até que temos, é um dever de consciência, uma atitude, de humanidade. O (a) agressor (a) precisa de uma medida educacional e um tratamento especializado e assim como ele(a) o(a) agredido(a) também. Ambos em casos diferenciados precisam de ajuda para seguirem suas estradas com dignidade entendendo que o amor é algo puro, construído, alimentado e preservado no dia a dia e que independentemente da idade que estamos somos sim capazes de estarmos em um relacionamento saudável que nos trará a cada amanhecer um novo objetivo de seguir.
Pense nisso
Gilwanya Ferreira
CRP 04/42417